A redação do jornal INFO esteve nesta quarta-feira com o ex-prefeito e
pediatra Dr. Paulo Cesar Neme. Com calma e serenidade ele falou sobre o
passado e apontou rumos que traça para o seu futuro. Admitindo não
guardar rancores, Paulo Neme esclarece o papel da política no seu
dia-a-dia, a distância sáudavel que criou da mesma apesar de muito
assédio, e deixa claro que jamais contaria com as mesmas pessoas
novamente. Para ele seria produzir um diagnóstico de burrice contra si.
Confira:
PAULO NEME – A gente está aqui para conversar com
você sobre o passado, as coisas que passaram. Mas como o rio nunca passa
duas vezes no mesmo lugar, então a água do rio já está lá na frente.
INFO – Dr., que lembranças o senhor guarda da sua gestão na prefeitura?
PAULO NEME – Eu tenho na minha memória as coisas
boas, é lógico que houve erros, qualquer administração tem seus acertos e
os seus erros. Eu creio que o maior acerto da administração nossa foi a
preocupação com as pessoas socialmente mais marginalizadas, as pessoas
das camadas mais empobrecidas da população. Aqueles que tinham grandes
dificuldades. A preocupação em tirar os jovens das ruas. E resolver
também o problema da criminalidade, da violência social. E também das
dificuldades da alimentação, do dia-a-dia dessas pessoas que muitos
nunca deram atenção devida.
Eu tenho recebido muitas pessoas que conversam conosco e dizem que na
nossa época o número de pessoas que tinham dificuldades com alimentação
eram muito menores do que hoje. Nós tínhamos um trabalho social mais
intenso. Uma assistência as famílias mais carentes da sociedade, aqueles
que saíram das prisões, a preocupação com os doentes. Enfim, essa
preocupação que faz com que a sociedade tenha uma harmonia e caminhe
mais solidária.
Mas ao mesmo tempo a política fica muito voltada para os interesses
materiais. As pessoas cobram do Prefeito não o sentido ideológico, não o
sentido dos avanços que a sociedade possa ter. A cobrança do Prefeito
diz mais respeito às coisas pontuais, as necessidades materiais mais
imediatas e é nisso que dá certa frustração, por que não há hoje, eu li
recentemente uma entrevista no jornal, não há uma preocupação para além
da política imediata, para além da próxima eleição.
Eu acho que a sociedade tem que ter uma visão para além do voto
imediato, uma visão daquelas pessoas que têm uma proposta a médio e
longo prazo.
Mas infelizmente você vê na Europa, com todo o desenvolvimento, Grécia,
Espanha, Portugal a preocupação mesmo da população, da política é com o
seu momento pontual, com sua dificuldade do aqui, agora.
Então, eu creio que trabalhar com o ser humano, trabalhar com a
sociedade humana é um processo muito difícil para quem tem uma visão de
futuro, um certo idealismo, uma crença mais espiritualizada no
significado da vida pessoal e da vida social.
INFO – Dr., hoje o senhor está espectador da política, o
senhor já esteve exercendo a função tanto na assembléia legislativa como
deputado, que foi eleito pela cidade de Lorena, como prefeito, que foi
eleito por essa mesma população. A sua situação hoje é um pouco mais
confortável, o senhor pode analisar de uma forma mais criteriosa e até
apontar caminhos. Nesse contexto, que caminho o senhor apontaria para o
prefeito Bustamante?
PAULO NEME – Não me cabe aqui apontar caminhos para
cada político, cada um escolhe o seu caminho, cada um escolhe sua vida.
Aminha relação com a população de Lorena sempre foi uma relação de
afeto, de amor e que continua. O amor e o afeto tem a característica da
eternidade, das coisas que são mais divinas na vida humana. Então, essa
relação com as pessoas é algo que não mudou, eu sinto carinho, amor, a
oração das pessoas… Enfim, eu acho que isso é o mais importante. E tudo
que aconteceu para mim, o sentido que as pessoas têm é o significado de
injustiça, de nós termos sido vítimas de uma série de circunstâncias. De
qualquer maneira pessoalmente é confortável isso. Para minha vida
pessoal, minha dedicação hoje com a profissão. Nós termos saído com a
população com o sentimento da ausência, o amor a distância, mas que
permanece.
INFO – O senhor está querendo dizer que a população continua
receptiva ao senhor, a população lorenense continua receptiva ao Paulo
Neme, que ela sempre conheceu como pediatra?
PAULO NEME – A minha relação com a população,
inclusive na campanha contra o ex- prefeito era uma relação de amor, de
amizade, de família mesmo. Esses laços verdadeiros, profundos e eternos
não desaparecem assim.
INFO – Politicamente o senhor tem sido procurado? A gente tem
eleições municipais esse ano, os candidatos tem vindo falar com o
senhor? O senhor já pensa em declarar apoio a algum candidato?
PAULO NEME - Tem pessoas procurando para conversa,
pedindo opinião, mas no momento eu tenho me silenciado, é aquilo que
dentro da igreja católica se chama de silencio obsequioso. Eu acho que é
o momento de silenciar, não é o momento de dizer muitas coisas e dar
tempo ao tempo para que as coisas cheguem no seu devido lugar.
INFO – Mas esse silêncio vai durar até quando? E efetivamente o senhor vai ter uma participação política nas eleições desse ano?
PAULO NEME – Em principio eu não tenho intenção de participar ativamente dessa próxima eleição.
INFO – Digo, apoiando algum candidato.
PAULO NEME – De preferência eu não quero uma participação ativa. De preferência eu quero observar e ver para onde vão as coisas.
INFO – Mas porque o senhor fez essa escolha, ficar neutro? De não ter um papel mais ostensivo?
PAULO NEME - Por que eu acho que é o momento de
dedicar um pouco a minha vida pessoal, profissional, cuidar também do
que ficou no passado, porque sempre restam coisas da administração,
acertar essas coisas e ir deixando os movimentos do passado terminarem. E
estou iniciando uma nova etapa da minha vida.
INFO – Mas isso não quer dizer que a sua
vida política tenha se encerrado? O Senhor não pensa em abandonar a
política? O senhor falou que é um momento de silêncio e reflexão, mas o
senhor pensa em abandonar a política e a vida pública?
PAULO NEME – As pessoas têm pedido para que eu
continue, mas eu estou dando esse tempo e orando muito, porque pessoas
muito próximas de mim, muito amigas, têm pedido para que eu não volte a
política. Então, vou dar esse tempo para eu refletir realmente se eu
devo voltar para assembléia, para a câmara federal ou até a prefeitura,
eu não sei. Mas é um tempo que eu tenho que meditar sobre isso. Sobre as
vantagens e desvantagens, e o que é melhor realmente para a minha vida e
para a vida das pessoas que estão ao meu redor.
INFO – Mas o que o senhor quer, o senhor quer pensar
realmente a respeito ou depois que o senhor esteve no poder e agora o
senhor está ausente, o senhor sente a necessidade de efetivamente
trabalhar para as pessoas?
PAULO NEME – Eu não sei se trabalhar pelas pessoas
tem que ser necessariamente pela via política ou cargo público. Eu
pessoalmente estou com aquele sentimento de gato escaldado tem medo de
água fria, por que já tomou água quente. Então, eu quero que passe esse
trauma dessas situações que tentaram jogar a gente no buraco, no fundo
do poço. Passe esse sentimento, que cicatrize aquelas coisas que nos
feriram, para que eu possa decidir com a mente tranquila, com todo
aprendizado que tive, por que foram experiências que nos ensinaram
muito, tirar todas as lições, todo o aprendizado, evoluir dentro do que
eu considero uma evolução mental, espiritual, para que eu possa ter uma
decisão melhor e continuar avançando para as metas absolutas, a verdade
absoluta, para o bem absoluto, que afinal é a meta de nossa vida. Nossa
meta de vida não é permanecer aqui na profissão, permanecer como médico,
como político. É a permanência eterna que é nossa parte espiritual, que
vai nos acompanhar sempre. O que vale a pena é o objetivo final. É o
serviço, a dedicação, as coisas do bem, a verdade absoluta, a verdade,
enfim, que vai nos libertar para uma vida superior.
INFO – O senhor falou a pouco das feridas e a história que o
envolveu é bastante recente. As feridas continuam abertas Dr. Paulo?
PAULO NEME – Eu creio que elas estão terminando. Eu
tive consequências na digestão, porque certas coisas dão náuseas, o
estômago também sente todo esse problema. Eu tenho feito tratamento
físico com florais de minas, equilibrando meu organismo, minhas
energias, e ao mesmo tempo me dedicando a leituras, a obras espirituais.
Coisas que têm me dado entendimento melhor. As lições de Cristianismo,
da lição maior: “amai-vos como eu vos amei”. Mesmo o inimigo, a gente
tem que aprender: a vitoria é ter o amor. O amor não significa que você
vai conviver, ou que você vai estar junto, mais no sentido que tira do
seu coração qualquer sentimento negativo, desejos negativos em relação
àquelas vidas que nos atingiram, para que essas vidas sigam seu curso, a
minha vida siga meu curso. No sentido que o amor ao próximo permaneça
no coração, como equilíbrio interior, sem mágoas e sem ressentimentos,
não significando com isso que vá se conviver. Mas tendo no seu interior o
sentimento de equilíbrio, justiça e verdade. Das coisas que são
realmente perenes e eternas.
INFO – O senhor teve um jantar a um tempo atrás com o
candidato Fábio Marcondes. O senhor continua conversando com ele, ele o
procurou para que o senhor desse apoio para ele nessa eleição?
PAULO NEME – Eu tenho conversado com inúmeras
pessoas, inúmeras pessoas tem conversado comigo, mas eu acho que isso
não é pontual e não é importante. Com o Fábio Marcondes a gente teve uma
conversa, não foi um jantar. Foi uma conversa através de um amigo em
comum. A gente conversou, trocou idéias. E a gente está ainda estudando
tudo isso. Mas não houve nenhum fechamento, nenhuma decisão. A tendência
maior mesmo é não entrar de cabeça nessa disputa, nessa rinha, nessa
briga.
INFO – Uma questão de auto- preservação? O senhor vai se preservar?
PAULO NEME – Eu diria não só preservação. A gente
luta por aquilo que a gente acredita. No momento a gente está assim um
pouco decepcionado com a política, com o ambiente político, com as
mentiras, com as hipocrisias, com as falsidades e a gente quer ficar
distante um pouco. Então, há pessoas que se aproximam pelo interesse
imediato, pelas necessidades mais urgentes. Importante é se aproximar
daquelas pessoas que tem algo mais próximo realmente de você, da sua
vida, que haja uma relação que não se dissolva na medida do interesse
material imediato, das necessidades mais imediatas.
INFO – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em uma
entrevista ao jornalista Alberto Diniz, afirma que para que seja
possível fazer a governabilidade, você tem que fazer muitas alianças e
algumas alianças poderiam ser consideradas pelo povo, esdrúxulas. O
senhor acha que nesse aspécto a sua relação com a câmara poderia ter
sido mais fácil se o senhor tivesse feito uma composição melhor com o
legislativo da cidade de Lorena?
PAULO NEME – Poderia se nós tivéssemos um
legislativo com um nível de preparo, nível pessoal de preparo
intelectual, de caráter, de personalidade um pouco mais firme.
Infelizmente na política , não só no legislativo nosso, mas em todos
legislativos, as coisas são ondas e as ondas são interesses de acordo
com o grupo, os grupos sociais, os grupos financeiros, com os grupos
empresariais. Isso é difícil. O que eu posso dizer é que eu tenho muita
dificuldade em me harmonizar com as coisas que não estejam dentro de um
critério mais de harmonia, equilíbrio de longo prazo. Por isso minha
dificuldade na política de não ceder em questões de princípio.
INFO – Vamos fazer um estudo prospectivo, o senhor falou a
pouco que talvez o senhor entre para a vida pública. Daqui a dois anos a
gente tem eleições para deputado. O senhor chamaria os mesmos
assessores que trabalhavam com o senhor?
PAULO NEME - Se eu chamasse os mesmos assessores eu
estaria dando a mim um atestado de falta de inteligência. As lições vêm
para nos ensinar e através dessas lições que a gente vai saber quem é
quem, quem realmente é próximo, é leal , é amigo verdadeiro.
Infelizmente as circunstâncias da política faz com que se aproxime de
nós pessoas que não tem nada a ver. Que veio somente pela circunstância
de poder, do financeiro, das vantagens pessoais, das vantagens de grupo e
vantagens até empresariais.
INFO – O seu entendimento de lealdade ele ficou mais consistente depois desse episódio que o envolveu?
PAULO NEME – Eu creio que a grande confiança de
qualquer ser humano é num ser superior, que eu creio. Acho que o grande
amigo, companheiro, a morada, o verdadeiro abrigo de nós, está em Deus
que representa em nosso coração. Os indianos chamam de Paramatma,
que é a super alma e os cristãos chamam o Cristo, o ser crítico no meu
coração. Então, é essa a relação que nos acompanha e que é eterna. As
coisas passageiras que chegam, que saem, que permanecem. E na caminhada
umas coisas ficam, outras saem e vai sendo assim eternamente. Então, eu
creio que na passagem, nessa temporalidade terão momentos com novas
pessoas novos aprendizados. E vamos evoluir.
INFO – E esse entendimento do efêmero, o qual o senhor se
refere, de que as coisas são passageiras, ela possibilitou que o senhor
aceitasse melhor até o fato de se afastar da vida pública, que o senhor
encarasse isso de uma forma menos apegada ao poder.
PAULO NEME – Sim, eu nunca tive na prefeitura o
status de prefeito, ou a preocupação com o Ser Prefeito, tinha
preocupação em me dedicar e servir essa população. E na medida que isso
foi possível a gente fez, na medida que as coisas foram acontecendo. E
eu falei muitas vezes na política, nas campanhas: eu não estou na
política para fazer amigos, mas para fazer um serviço para a sociedade a
qual eu estou. Eu não trabalhei politicamente para fazer amizades, eu
trabalhei para o serviço e servir. Com sacrifico pessoal, da própria
profissão, nós tivemos que deixar em boa parte. Uma dedicação a Deus e a
comunidade. Na verdade surgiram amigos, sim, pessoas maravilhosas que
eu tive oportunidade de conhecer, e pessoas que também me conheceram e
se revelaram. Eu creio que como deputado eu consegui grandes amigos na
assembléia legislativa. Como prefeito eu tenho pessoas que, como
preservação, nem demonstram muita amizade, mas eu sei quem são meus
amigos.
INFO – Dr., enquanto munícipe, como o senhor avalia a administração do Marcelo Bustamante?
PAULO NEME –Como falei para você, estou em silêncio,
prefiro não avaliar, não dizer, porque é desagradável, inclusive acho
anti-ético . Como a gente saiu do cargo, criticar quem entrou, isso aí é
dor de cotovelo, inveja, ciúmes. Creio que cabe a ele a população
avaliar o que ele está fazendo.
Extraído de: http://jornalinfoguara.com.br/